D16 – Identificar efeitos de ironia ou humor em textos variados
No trecho:
"Ironia ou não, enquanto as lojas anunciam 'oportunidades imperdíveis', os consumidores se endividam justamente por não perderem tais 'oportunidades'."
Questão 1. Qual é o efeito de ironia presente nesse trecho?
a) Apresentar uma oportunidade real de compra com desconto.
b) Mostrar que as promoções ajudam os consumidores a economizar.
c) Destacar que, ao tentar aproveitar “oportunidades”, as pessoas acabam prejudicando-se financeiramente.
d) Explicar que as lojas usam linguagem direta para atrair clientes.
Resposta correta: C) Destacar que, ao tentar aproveitar “oportunidades”, as pessoas acabam prejudicando-se financeiramente.
Comentário:
O trecho utiliza ironia ao mostrar que as “oportunidades imperdíveis” anunciadas pelas lojas acabam levando os consumidores ao endividamento. O efeito irônico está no contraste entre o sentido positivo da expressão e o resultado negativo real.
-
A está incorreta porque o trecho não apresenta uma oportunidade real.
-
B está incorreta porque não diz que há economia real, e sim prejuízo.
-
D está incorreta porque não fala sobre o uso literal de linguagem direta.
D17 – Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de outras notações
Observe a frase:
"...vender a ilusão de felicidade em parcelas 'que cabem no bolso'."
Questão 2. O uso das aspas em "que cabem no bolso" indica que:
a) O autor acredita literalmente que as parcelas cabem no orçamento.
b) Há dúvida ou crítica em relação à veracidade dessa expressão.
c) Trata-se de um termo técnico do mercado financeiro.
d) É apenas um destaque gráfico para atrair atenção.
Resposta correta: B) Há dúvida ou crítica em relação à veracidade dessa expressão.
Comentário:
O uso das aspas indica que a frase “que cabem no bolso” não deve ser entendida literalmente; o autor usa o recurso para criticar a expressão publicitária, sugerindo que ela não corresponde à realidade financeira do consumidor.
-
A está incorreta porque o autor não acredita literalmente na frase.
-
C está incorreta porque a expressão não é termo técnico.
-
D está incorreta porque as aspas aqui têm função semântica (crítica), não apenas estética.
D18 – Reconhecer o efeito de sentido decorrente da escolha de uma determinada palavra ou expressão
No trecho:
"É urgente que escolas, famílias e governos unam esforços..."
Questão 3. O uso da palavra "urgente" tem o efeito de:
a) Indicar que o tema é importante, mas pode ser tratado futuramente.
b) Demonstrar que o autor considera o assunto prioritário e imediato.
c) Sugerir que apenas escolas devem agir rapidamente.
d) Enfatizar que a educação financeira é algo opcional.
Resposta correta: B) Demonstrar que o autor considera o assunto prioritário e imediato.
Comentário:
A escolha do adjetivo “urgente” intensifica o tom de prioridade e necessidade imediata de ação. É mais forte que “importante” e mostra que o autor defende que o tema deve ser tratado sem demora.
-
A está incorreta porque “urgente” não sugere espera.
-
C está incorreta porque o trecho inclui escolas, famílias e governos, não apenas escolas.
-
D está incorreta porque o autor defende que é necessário, não opcional.
D19 – Reconhecer o efeito de sentido decorrente da exploração de recursos ortográficos e/ou morfossintáticos
Na frase:
"A educação financeira não significa viver de forma avarenta ou abrir mão de prazeres legítimos..."
Questão 4. O uso da conjunção "ou" na expressão “viver de forma avarenta ou abrir mão de prazeres legítimos” indica:
a) Que a educação financeira exige ambas as ações ao mesmo tempo.
b) Que o autor está apresentando alternativas distintas que não correspondem ao real significado de educação financeira.
c) Que as duas ações são obrigatórias para quem quer economizar.
d) Que a frase deve ser lida como uma ironia.
Resposta correta: B) Que o autor está apresentando alternativas distintas que não correspondem ao real significado de educação financeira.
Comentário:
O “ou” conecta duas ideias equivocadas sobre o que seria educação financeira: viver de forma avarenta ou abrir mão de prazeres legítimos. O autor nega ambas, mostrando que elas não definem o conceito defendido.
-
A está incorreta porque não se trata de exigência simultânea.
-
C está incorreta porque não afirma que essas ações são obrigatórias.
-
D está incorreta porque não é ironia, mas negação de interpretações erradas.
AS DUAS NOIVAS
O ônibus parou e ela subiu. Ele se
encolheu, separando-se da outra, as mãos enfiadas entre os joelhos e olhando
para o lado – como se adiantasse, já tinha sido visto. A noiva sorriu,
agradavelmente surpreendida:
Mas que coincidência!
E sentou-se a seu lado. Você ainda não
viu nada – pensou ele, sentindo-se perdido, ali entre as duas. Queria sumir,
evaporar-se no ar. Num gesto meio vago, que se dirigia tanto a uma como a
outra, fez a apresentação com voz sumida:
—Esta é minha noiva…
—Muito prazer – disseram ambas.
Fonte:
Sabino, Fernando. Obra Reunida. Volume III, Editora Nova Aguilar S.A. – Rio de
Janeiro, 1996, p.
Questão 5. No texto, a ironia está no fato de que as moças
A) se conheciam.
B) se cumprimentaram.
C) falaram ao mesmo tempo.
D) noivaram com o mesmo rapaz.
Resposta correta: D) noivaram com o mesmo rapaz.
Comentário:
A ironia do texto está no contraste entre a apresentação do rapaz e a reação das moças. Ele faz a apresentação dizendo “— Esta é minha noiva…”, e o texto registra que ambas respondem “Muito prazer” (— “Muito prazer – disseram ambas.”). Esse diálogo sugere — de forma inesperada e irônica — que as duas moças são apresentadas como sua noiva, ou seja, que estariam noivas do mesmo rapaz.
-
A (se conheciam) não é indicado pelo texto — não há referência a elas já se conhecerem.
-
B (se cumprimentaram) descreve uma ação literal, mas não capta o efeito irônico do trecho.
-
C (falaram ao mesmo tempo) pode ser verdade em termos narrativos (“disseram ambas”), mas não é o núcleo da ironia; o que causa o efeito ironizado é o fato de ambas serem, implicitamente, a “noiva” do mesmo rapaz.
Leia e resolva.
Questão 6. Na tirinha, o elemento responsável pelo humor é
A) o indicador do desemprego.
B) a indignação de Mafalda no final.
C) a mudança no formato dos balões.
D) a quebra de expectativa no texto.
Resposta correta: D) a quebra de expectativa no texto.
Comentário:
O humor da tirinha nasce do jogo de sentidos entre dedo indicador (objeto literal) e indicador de desemprego (termo econômico/abstrato). A tira constrói uma expectativa — fala sobre o “indicador” (o dedo) — e no final faz a personagem concluir, de modo inesperado, que o dedo seria “o tal indicador de desemprego de que tanto se fala”. Essa surpresa / deslocamento de sentido (confundir um indicador físico com um indicador econômico) é a quebra de expectativa que provoca o riso.
-
A (o indicador do desemprego) aponta o tema presente na piada, mas não descreve o mecanismo humorístico principal; o objeto em si aparece na piada, mas o que gera humor é a leitura inesperada/heavy da expressão.
-
B (a indignação de Mafalda no final) é secundária à piada; a reação contribui, mas não é a causa do humor.
-
C (a mudança no formato dos balões) é um recurso gráfico possível, mas não é o elemento fundamental da piada aqui.
Furto de flor
Carlos Drummond de Andrade
Furtei uma flor daquele jardim. O
porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a flor.
Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo
com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destina-se a beber, e
flor não é para ser bebida.
Passei-a para o vaso, e notei que ela me
agradecia, revelando melhor sua delicada composição. Quantas novidades há numa
flor, se a contemplarmos bem.
Sendo autor do furto, eu assumira a
obrigação de conservá-la. Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi
por sua vida. Não adiantava restituí-la no jardim. Nem apelar para o médico de
flores. Eu a furtara, eu a via morrer.
Já murcha, e com a cor particular da
morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde desabrochara. O
porteiro estava atento e repreendeu-me.
— Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua
casa neste jardim!
Disponível
em: https://www.contioutra.com/furto -de-flor-uma-cronica-de-carlos
-drummond-de-andrade/.
Questão 7. O uso do ponto de exclamação no trecho
“— Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!”, sugere que o
porteiro ficou
A) intimidado com a atitude do narrador.
B) preocupado com atitude do narrador.
C) amedrontado porque o homem jogou lixo
no jardim.
D) indignado com o fato do narrador jogar a flor no jardim.
A.D.A - SEDUC-GO). Leia o texto e, a seguir, responda.
LAERTE,
Piratas do Tietê. Folha de S. Paulo, 25 nov. 2000.
Questão 8. No segundo quadrinho, o ponto de
interrogação após a expressão “O quê?...” mostra que o gato está
A) comovido.
B) indignado.
C) desmotivado.
D) entusiasmado.
Resposta correta: B) indignado.
Comentário:
No segundo quadrinho, o gato reage à fala “SÓMI” interpretando-a como se fosse “suma daqui” ou “desapareça”. O ponto de interrogação após “O quê?...” expressa surpresa seguida de questionamento, indicando que ele se sentiu ofendido. A sequência “Tá me mandando sumir, sua grossa?!” confirma esse tom de indignação, pois há acusação e julgamento na fala.
Por que as outras alternativas estão incorretas:
-
A (comovido): não há demonstração de emoção positiva ou sensibilização; a reação é de ofensa.
-
C (desmotivado): o gato não está sem ânimo, mas sim reagindo de forma ativa e exaltada.
-
D (entusiasmado): entusiasmo é um sentimento positivo e animado, o que não condiz com o tom de protesto presente na fala.
DESIGUALDADE SOCIAL NO BRASIL
As informações da desigualdade no Brasil
são de arrepiar. Escolha qualquer indicador, mulheres e negros estão sempre
abaixo de homens e brancos. No país, a renda do 1% mais rico é igual à dos 99%
restantes. E ricos ficam cada vez mais ricos e pobres mais pobres.
No mundo, há 62 indivíduos com renda
somada de US$ 1,7 trilhão, igual ao que ganham os 50% mais pobres do planeta.
Mas nós, brasileiros, somos campeões mundiais em desigualdade.
O pior é que a maioria dos pobres no
Brasil vive na periferia das cidades. Sonha com melhor emprego, transporte,
segurança, saúde e educação. Mas sofre as mazelas do dia a dia. Quem mora na
Restinga gasta três horas para ir e voltar do trabalho.
É claro que só sairemos do buraco se
enfrentarmos a crise da Previdência, as distorções nas relações de trabalho e
se tornarmos a economia mais competitiva. Mas, sem políticas que promovam
melhor distribuição de renda e serviços públicos de melhor qualidade, o Brasil
nunca avançará. É preciso cuidar dos mais vulneráveis. E isso exige
patriotismo. Olhar menos para o próprio umbigo. Aceitar perder privilégios. É a
única forma através da qual filhos de quaisquer brasileiros, sobretudo os mais
pobres, poderão se tornar, um dia, profissionais mais competitivos. O Brasil
está ruim até para os ricos. Muitos mantêm seus negócios aqui, mas a família já
foi embora, para fugir da violência. Imagine a vida de quem não tem alternativa
a não ser ficar.
Gilberto
Schwartsmann. (Médico e professor)
A) mostrar a necessidade da
persistência.
B) destacar os problemas das outras
pessoas.
C) evitar excessiva importância para si
mesmo.
D) ressaltar a necessidade de notar a si
próprio.
Resposta correta: C) evitar excessiva importância para si mesmo.
Comentário:
A expressão “Olhar menos para o próprio umbigo” é uma metáfora para reduzir o egoísmo e a preocupação exclusiva consigo mesmo, passando a se importar mais com o coletivo. No contexto do texto, o autor defende que é necessário abrir mão de privilégios individuais para melhorar a vida de todos, especialmente dos mais vulneráveis.
Por que as demais estão incorretas:
-
A: persistência não é o foco da expressão; trata-se de altruísmo e solidariedade.
-
B: apesar de envolver atenção ao outro, “destacar os problemas das outras pessoas” não expressa a ideia central, que é parar de pensar apenas em si.
-
D: é o oposto do sentido; “ressaltar a necessidade de notar a si próprio” reforçaria o egoísmo, que é justamente o que a frase combate.
Sinal
Olá, como vai?
Eu vou indo e você, tudo bem?
Tudo bem, eu vou indo, correndo
Pegar meu lugar no futuro, e você?
Tudo bem, eu vou indo em busca
De um sono tranquilo, quem sabe?
Quanto tempo, pois é, quanto tempo
Me perdoe a pressa
É a alma dos nossos negócios
Qual, não tem de que
Eu também só ando a cem
Quando é que você telefona?
Precisamos nos ver por aí
Pra semana, prometo, talvez
Nos vejamos, quem sabe
Quanto tempo, pois é, quanto tempo
Tanta coisa que eu tinha a dizer
Mas eu sumi na poeira das ruas […]
Paulinho
da Viola.
A) bastante pressa, correndo.
B) muito cuidado, bem devagar.
C) muito medo e preocupado.
D) toda tranquilidade, despreocupado.
(SEAPE). Leia o texto abaixo.
Por que o cachorro foi morar com o homem?
O cachorro, que todos dizem ser o melhor amigo do homem, vivia antigamente no meio do mato com seus primos, o chacal e o lobo.
Os três brincavam de correr pelas campinas sem fim, matavam a sede nos riachos e caçavam sempre juntos.
Mas, todos os anos, antes da estação das chuvas, os primos tinham dificuldades para encontrar o que comer. A vegetação e os rios secavam, fazendo com que os animais da floresta fugissem em busca de outras paragens.
Um dia, famintos e ofegantes, os três com as línguas de fora por causa do forte calor, sentaram-se à sombra de uma árvore para tomarem uma decisão.
– Precisamos mandar alguém à aldeia dos homens para apanhar um pouco de fogo – disse o lobo.
– Fogo? – perguntou o cachorro.
– Para queimar o capim e comer gafanhotos assados – respondeu o chacal com água na boca.
– E quem vai buscar o fogo? – tornou a perguntar o cachorro.
– Você! – responderam o lobo e o chacal, ao mesmo tempo, apontando para o cão.
De acordo com a tradição africana, o cão, que era o mais novo, não teve outro jeito, pois não podia desobedecer a uma ordem dos mais velhos. Ele ia ter que fazer a cansativa jornada até a aldeia, enquanto o lobo e o chacal ficavam dormindo numa boa.
O cachorro correu e correu até alcançar o cercado de espinhos e paus pontudos que protegia a aldeia dos ataques dos leões.
Anoitecia, e das cabanas saía um cheiro gostoso. O cachorro entrou numa delas e viu uma mulher dando de comer a uma criança. Cansado, resolveu sentar e esperar a mulher se distrair para ele pegar um tição.
Uma panela de mingau de milho fumegava sobre uma fogueira. Dali, a mulher, sem se importar com a presença do cão, tirava pequenas porções e as passava para uma tigela de barro.
Quando terminou de alimentar o filho, ela raspou o vasilhame e jogou o resto do mingau para o cão. O bicho, esfomeado, devorou tudo e adorou. Enquanto comia, a criança se aproximou e acariciou o seu pelo. Então, o cão disse para si mesmo:
– Eu é que não volto mais para a floresta. O lobo e o chacal vivem me dando ordens.
Aqui não falta comida e as pessoas gostam de mim. De hoje em diante vou morar com os homens e ajudá-los a tomar conta de suas casas.
E foi assim que o cachorro passou a viver junto aos homens. E é por causa disso que o lobo e o chacal ficam uivando na floresta, chamando pelo primo fujão.
BARBOSA, Rogério Andrade. Disponível em <http://www.ciadejovensgriots.org.br/Contos_Africanos_Infantis/Porque_o_cachorro_foi_
morar_com_o_homem.php>. Acesso em: 5 jul. 2011.
Questão 11. No trecho “Quando terminou de alimentar o filho, ela raspou o vasilhame e jogou o resto do mingau para o cão.” (17° parágrafo), o autor, ao utilizar o tempo dos verbos destacados estabelece
A) a conclusão de um fato.
B) a continuidade de uma ação.
C) a possibilidade de ocorrência de um fato.
D) a condução para a realização de uma ação.
Resposta correta: A) a conclusão de um fato.
Comentário:
Os verbos “terminou”, “raspou” e “jogou” estão no pretérito perfeito, que indica ações concluídas em um momento específico no passado. No trecho, o autor descreve ações que já se encerraram, estabelecendo a conclusão de eventos ocorridos antes do momento seguinte da narrativa.
Por que as demais estão incorretas:
-
B: a continuidade de uma ação seria expressa pelo pretérito imperfeito, e não pelo perfeito.
-
C: a possibilidade seria marcada por modos como o subjuntivo ou por verbos auxiliares indicando hipótese.
-
D: “condução para a realização” implicaria uma preparação ou ação futura, o que não é o caso.
(SPAECE). Leia o texto abaixo.
O craque sem idade
Quando acabou a etapa inicial do jogo Brasil x Paraguai, o placar acusava um lírico, um platônico 0 x 0. Ora, o empate é o pior resultado do mundo. [...] Acresce o seguinte: de todos os empates o mais exasperante é o de 0 x 0. [...]
Súbito, o alto-falante do estádio se põe a anunciar as duas substituições brasileiras: entravam Zizinho e Walter. Foi uma transfiguração. Ninguém ligou para Walter, que é um craque, sim, mas sem a tradição, sem a legenda, sem a pompa de um Ziza. O nome que crepitou, que encheu, que inundou todo o espaço acústico do Maracanã foi o do comandante banguense. Imediatamente, cada torcedor tratou de enxugar, no lábio, a baba da impotência, do despeito e da frustração. O placar permanecia empacado no 0 x 0. Mas já nos sentíamos atravessados pela certeza profética da vitória. Os nossos tórax arriados encheram-se de um ar heroico, estufaram-se como nos anúncios de fortificante.
Eis a verdade: a partir do momento em que se anunciou Zizinho, a partida estava automática e fatalmente ganha. Portanto, público, juiz, bandeirinhas e os dois times podiam ter se retirado, podiam ter ido para casa. Pois bem: veio o jogo. Ora, o primeiro tempo caracterizara-se por uma esterilidade bonitinha. Nenhum gol, nada. Mas a presença de Zizinho, por si só, dinamizou a etapa complementar, deu-lhe caráter, deu-lhe alma, infundiu-lhe dramatismo. Por outro lado, verificamos ainda uma vez o seguinte: a bola tem um instinto clarividente e infalível que a faz encontrar e acompanhar o verdadeiro craque.
Foi o que aconteceu: a pelota não largou Zizinho, a pelota o farejava e seguia com uma fidelidade de cadelinha ao seu dono. [...]
No fim de certo tempo, tínhamos a ilusão de que só Zizinho jogava. Deixara de ser um espetáculo de 22 homens, mais o juiz e os bandeirinhas. Zizinho triturava os outros ou, ainda, Zizinho afundava os outros numa sombra irremediável. Eis o fato: a partida foi um show pessoal e intransferível.
E, no entanto, a convocação do formidável jogador suscitara escrúpulos e debates acadêmicos. Tinha contra si a idade, não sei se 32, 34, 35 anos. Geralmente, o jogador de 34 anos está gagá para o futebol, está babando de velhice esportiva. Mas o caso de Zizinho mostra o seguinte: o tempo é uma convenção que não existe [...] para o craque. [...] Do mesmo modo, que importa a nós tenha Zizinho dezessete ou trezentos anos, se ele decide as partidas? Se a bola o reconhece e prefere?
No jogo Brasil x Paraguai, ele ganhou a partida antes de aparecer, antes de molhar a camisa, pelo alto-falante, no intervalo. Em último caso, poderá jogar, de casa, pelo telefone.
RODRIGUES, Nelson. Disponível em: <http://goo.gl/OcttjP>. Acesso em: 15 out. 2013. *Adaptado: Reforma Ortográfica. Fragmento.
Questão 12. No trecho “Ora, o primeiro tempo caracterizara-se por uma esterilidade bonitinha.” (3° parágrafo), o uso do diminutivo no termo em destaque sugere
A) admiração.
B) deboche.
C) suavidade.
D) tamanho.
Resposta correta: B) deboche.
Comentário:
O diminutivo em “esterilidade bonitinha” não é usado para indicar tamanho ou suavidade real, mas sim ironia e deboche. O narrador critica o fato de o primeiro tempo ter sido sem gols e sem emoção, chamando-o de “bonitinho” de forma sarcástica para enfatizar que, apesar de “arrumado”, foi improdutivo.
Por que as demais estão incorretas:
-
A: não há admiração, mas crítica velada.
-
C: suavidade não é a intenção, o tom é irônico.
-
D: tamanho não é o sentido do diminutivo aqui.
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